terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Frases do Blog - Frases

"Nenhum crítico é mais capaz do que eu de perceber claramente a desproporção que existe entre os problemas e a solução que lhes contribuo." [ Sigmund Freud ]

Guia de Doenças - Disturbio de Estresse Pós-Traumático

Definição

Também conhecida pela sigla PTSD (derivada do inglês "Post Traumatic Stress Disorder"), uma reação do organismo muito parecida com a síndrome do pânico (ver no Guia de Doenças o texto "Síndrome do Pânico"). Apresenta, porém, uma característica diferencial importante: trata-se de uma resposta a um acontecimento inesperado, inevitável, imprevisível e muito traumático, no qual a pessoa se sentiu impotente diante de uma situação extremamente ameaçadora – brigas, seqüestro, prisão, assalto, estupro ou acidente, por exemplo.

Sintomas
Apresenta os mesmos sintomas da síndrome do pânico, acrescidos de pesadelos, terrores noturnos e um fenômeno chamado de flash back: a pessoa tem a sensação de viver novamente a situação ameaçadora, como se fosse uma cena de filme. Além disso, com o passar do tempo, desenvolve-se um estado depressivo crônico, com apatia, irritabilidade, desinteresse por muitas atividades, diminuição de memória e, às vezes, sentimento de culpa.

A simples presença de algo que remete à situação desencadeante pode causar ataques de ansiedade. O caso mais extremo já registrado na literatura médica relaciona-se a sobreviventes dos campos de concentração nazistas na Segunda Guerra Mundial. Muitos deles, portadores do mal, entram em pânico simplesmente ao ver um policial ou soldado fardados, embora tenham a consciência de que se trata de um medo irracional.

Tratamento
Em geral, prescrevem-se técnicas de relaxamento, medicação tranqüilizante ou antidepressiva, para acabar com a insônia e os pesadelos. A psicoterapia individual ou em grupo (principalmente se este for de auto-ajuda) pode ser útil. Em muitos casos, é contra-indicada a psicanálise voltada ao passado, em que se tenta fazer o paciente entender e "digerir" o fato traumático.

Artigo Extraido do Site VEJA.COM saude
Esse conteúdo tem caráter meramente informativo e não substitui a consulta ao médico.

Guia de Doenças - Sindrome do Pânico

Síndrome do Pânico
Definição
É um distúrbio do metabolismo cerebral. Em outros tempos, os portadores de síndrome do pânico eram tratados como neuróticos, fóbicos ou histéricos. A doença sempre existiu, embora certamente com menor incidência do que na atualidade. Há apenas dez anos, contudo, ganhou esse nome.

Características
A síndrome nada tem a ver com a força da personalidade ou com conceitos de coragem ou covardia. Para entendê-la, não se pode partir do pressuposto de que o paciente "inventa" ou "imagina" os sintomas. O coração realmente acelera, as mãos de fato ficam úmidas, a pele empalidece visivelmente e a pessoa passa por um profundo – e verdadeiro – mal-estar. Tudo isso acontece quando hormônios, como a adrenalina, são descarregados em quantidade exagerada na corrente sangüínea. Essa descarga anormal é provocada por uma glândula localizada na base do cérebro, chamada hipófise, que recebeu o estímulo de uma região cerebral situada pouco acima, chamada hipotálamo. Este, por sua vez, foi superestimulado porque algumas células nervosas do cérebro (os neurônios) apresentaram uma disfunção de substâncias químicas que circulam entre elas, principalmente a serotonina.

Quase sempre a doença tem razões físicas (incluindo a predisposição genética), emocionais ou ambas. Entre as causas de ordem física mais freqüentes estão as alterações orgânicas provocadas por medicamentos (como, por exemplo, as anfetaminas), doenças, traumatismos cranianos, drogas ou grandes alterações no metabolismo como um todo.

Entre as causas psicológicas ou emocionais encontram-se os estados prolongados de ansiedade e estresse. Tais quadros apresentam um importante fator em comum: a solução dos problemas enfrentados é dolorosa, difícil, traumática ou extremamente penosa do ponto de vista psicológico e emocional. Ou seja, a pessoa acredita que está ‘num beco sem saída’.

Sintomas
Destacam-se entre eles, principalmente: aumentos súbitos de freqüência cardíaca, suor em excesso, falta de ar, tremor, fraqueza nas pernas, ondas de frio ou de calor, tontura, sensações de que o ambiente está estranho, de pressão na cabeça, de que se está prestes a desmaiar, ter um infarto ou enlouquecer, de que se vai engasgar com alimentos. Também acontecem crises noturnas: a pessoa acorda sobressaltada, suando abundantemente e com o coração disparado. Com freqüência menor, ocorrem diarréias intensas, vertigens, crença obsessiva de que se tem doenças graves (mesmo que todos os exames digam o contrário), ou de que se é capaz de fazer mal a si mesmo ou a outras pessoas. Após certo tempo, surgem períodos de depressão, o que não significa que a pessoa também sofra desse outro distúrbio psiquiátrico. (Ver no "Guia de Doenças" o texto "Depressão".)

Muitas pessoas desenvolvem o medo de voltar a sentir medo. É comum que a simples idéia de entrar num avião ou de ficar preso num congestionamento baste para desencadear a crise. Existem aqueles que, no cinema, teatro ou restaurante, procuram sentar-se sempre perto da saída, para terem uma rota de fuga caso venham a passar mal. Assim, a pessoa chega ao limite de planejar seus horários e trajetos diários para evitar o risco de um congestionamento, ou de modo que haja um hospital no meio do percurso, por "precaução".

Tratamento
É um dos problemas mais facilmente tratáveis da psiquiatria. Embora longo, o tratamento traz alívio rápido dos sintomas, o que serve como incentivo para que o paciente submeta-se às prescrições médicas.

Na fase inicial, a terapia consiste em eliminar os sintomas físicos, o que costuma acontecer em horas ou dias, com a ajuda de medicamentos; no caso, a psicoterapia analítica é de pouca utilidade, sendo a de apoio mais eficaz. Em estágios avançados, quando se trata da eliminar as fobias, o tratamento mais eficaz é uma combinação de medicação com certas formas de psicoterapia, feita no início do tratamento.


É importante destacar que a síndrome do pânico é benigna e que quase todos os sintomas agudos das crises (exceto nas fobias) desaparecem nas primeiras horas ou dias de tratamento. Porém, a doença é "teimosa": seu tratamento tem de prosseguir por muito tempo, mesmo que a pessoa não sinta mais nenhum desconforto. Caso a terapia seja muito curta ou interrompida, a recaída é praticamente certa.

Como o tratamento medicamentoso de longo prazo pressupõe o uso de antidepressivos – e não de tranqüilizantes –, não ocorre dependência física nem tolerância (ou seja, não é preciso que o paciente tome doses cada vez maiores para obter o mesmo efeito).

Artigo extraido do site VEJA.COM saúde.
Esse conteúdo tem caráter meramente informativo e não substitui a consulta ao médico.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Frases do Blog - Frases

"Jamais desconsidere a maravilha de suas lágrimas. Elas podem ser àguas curativas e uma fonte de alegria. Algumas vezes são as melhores palavras que o coração pode falar" - Extraido do Livro - A Cabana - William P. Youg

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Frases do Blog - Frases

“Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo.”
Hermann Hesse

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Reportagens - Os superacelerados

Psicologia

A hipomania explica por que algumas pessoas vivem sempre a mil por hora.

Os distúrbios mentais costumam submeter seus portadores a situações de grande angústia, capazes de arruinar sua vida. Nos últimos tempos, a psiquiatria tem se debruçado sobre uma alteração que, às vezes, age de forma oposta: contribui para o sucesso pessoal e profissional do portador. A alteração chama-se hipomania, uma variante suave do transtorno bipolar, no qual o paciente alterna períodos de euforia com outros de depressão. Nos casos clássicos de transtorno bipolar, as mudanças de comportamento representam alto risco para o portador. Na euforia, ele se torna violento, perde a noção de realidade e toma atitudes bizarras ou perigosas. Quase sempre acaba internado, quando então mergulha numa depressão profunda que pode levar a atitudes suicidas. Nos hipomaníacos, o processo é diferente. A euforia se manifesta de forma consciente, é constante e, de modo geral, direcionada para atitudes produtivas. Pode durar meses, anos ou a vida inteira. Não há distorção grave da realidade e a depressão se resume a crises amenas, não muito diferentes daquelas a que qualquer pessoa está sujeita. Resultado: o distúrbio trabalha muitas vezes a favor de seu portador, dando a ele uma energia e um otimismo incomuns diante das situações do dia-a-dia. Calcula-se que pelo menos 6% da população mundial seja hipomaníaca.
É fácil reconhecer o hipomaníaco. No trabalho ou no convívio social, é aquele sujeito que parece ligado na tomada. Fala, pensa e age mais rápido que os demais. Dorme pouco, mas está sempre disposto, entusiasmado e cheio de idéias. Confiante, fala em projetos grandiosos. Faz várias coisas ao mesmo tempo e dá conta de todas elas. Em geral, os hipomaníacos são os mais populares da turma ou os "queridinhos" do chefe. Em muitos casos, são os próprios chefes. Esse é o lado bom da hipomania. As mesmas características levam os hipomaníacos a tomar atitudes que os prejudicam. Sua confiança sem limites faz com que reajam mal ao ser contrariados, mesmo em assuntos de pouca importância. Em casos extremos, sentem-se perseguidos por quem não concorda com suas opiniões. Tendem a assumir riscos exagerados, inclusive de vida. São propensos a comportamentos compulsivos, como gastar demais ou beber em excesso. "Os casamentos dos hipomaníacos costumam durar pouco", informa a psiquiatra Dóris Moreno, do Hospital das Clínicas de São Paulo. "É difícil conviver com alguém cuja autoconfiança é ilimitada e que não gosta de ser contrariado", ela completa.
Um livro recém-lançado nos Estados Unidos procura demonstrar que a hipomania está por trás dos feitos de muitos personagens célebres em todas as áreas do conhecimento. Em The Hypomanic Edge – The Link Between (a Little) Craziness and (a Lot of) Success in America (Os Limites da Hipomania – A Ligação entre (um pouco de) Loucura e (muito) Sucesso na América), o psiquiatra John D. Gartner, da Universidade Johns Hopkins, argumenta que a maioria dos empreendedores que fizeram a história dos Estados Unidos era hipomaníaca – a começar pelo próprio descobridor da América, o navegador genovês Cristóvão Colombo. Ele cultivava uma fé quase irracional em si mesmo. Também costumava ouvir vozes divinas falando-lhe sobre a viagem do descobrimento. "Como uma mão que podia ser sentida, Deus mostrou-me que era possível fazer a viagem e me encorajou a completar o projeto", escreveu Colombo à corte espanhola em 1500. Segundo Gartner, 39% dos hipomaníacos relatam presságios divinos ou sentem-se impulsionados por vozes internas. O americano Henry Ford, pioneiro da indústria automobilística, citado no livro como um hipomaníaco histórico, tinha como mantra o seguinte raciocínio: "Tudo pode sempre ser feito mais rápido". Não por acaso, Ford inventou também a linha de montagem, que reduziu drasticamente o tempo de produção de seus veículos.
Entre os contemporâneos analisados no livro de Gartner está o geneticista americano Craig Venter, um dos maiores cientistas da atualidade, chefe da equipe que concluiu o mapeamento do genoma humano em 2000. Venter concordou em se submeter a testes conduzidos pelo psiquiatra e, ao final, admitiu ser hipomaníaco. "Durante toda a vida me achei meio amalucado. Tinha tantas idéias grandiosas que era difícil manter o foco em uma delas. Mas sempre tive esse senso de grandeza, sabia que ocuparia um lugar importante na história", disse Venter a Gartner. Para os hipomaníacos, o céu é o limite.
Fonte: Veja.com
Reportagem
Gabriela Carelli

Reportagens - Coração intocado

Angioplastia e remédios diminuem a necessidade de cirurgias cardíacas.

O médico Trajano Vayas lembra-se em detalhes daquela sexta-feira, 13 de setembro de 1996. Como de costume, ele acordou pouco antes das 7 da manhã. Mas, ao se levantar, imediatamente caiu no chão. Por alguns segundos, seu coração parara de bater. Levado ao hospital, só havia uma opção: ele deveria ser operado. O peito foi aberto para a colocação de duas pontes de safena e uma mamária. Passaram-se seis anos e uma de suas pontes também entupiu. Dessa vez, Vayas foi poupado da mesa de operação. Seu coração foi revascularizado graças a uma angioplastia, que remove placas de gordura das artérias por meio de um cateter. Desde o início desta década, ele passou por mais duas angioplastias. Atualmente, suas artérias mantêm-se desobstruídas graças a um coquetel de remédios. O caso de Vayas ilustra uma revolução na cardiologia: as cirurgias, antes inevitáveis em caso de infarto e outras ocorrências similares, perderam terreno para os procedimentos menos invasivos e para os medicamentos que ajudam a prevenir novos ataques. "Vive-se uma nova era na cardiologia, com uma redução considerável na indicação das operações coronárias",diz o cardiologista Raul Dias dos Santos, diretor da unidade clínica de lípides do Instituto do Coração (Incor), de São Paulo.
Ao longo dos últimos dez anos, os principais centros de cardiologia do mundo registraram uma queda de 30% no número de cirurgias de revascularização, como as pontes de safena e mamária. Hoje, de cada três intervenções para a desobstrução arterial, apenas uma é cirurgia. As outras duas são angioplastias. A tendência é que mesmo a angioplastia perca espaço para os tratamentos clínicos, com remédios. Os antigos conceitos começaram a ser revistos com a publicação de pesquisas comparativas sobre a eficácia das cirurgias, da angioplastia e do acompanhamento clínico para os pacientes vítimas de obstruções arteriais. Os trabalhos mais recentes indicam que, para os doentes crônicos, as três técnicas oferecem resultados semelhantes. Sendo assim, por que abrir o peito do paciente se o problema dele pode ser resolvido com um cateter ou simplesmente um remédio?
Otavio Dias de Oliveira
REMÉDIOS QUE SALVAMA dona-de-casa Gisleine Calpacci teve uma ameaça de infarto. O problema dela foi controlado graças a um coquetel de comprimidos
Dos estudos sobre a conduta mais adequada no tratamento de doentes cardíacos, dois merecem destaque. Um deles, o Mass II, foi conduzido pelo cardiologista brasileiro Whady Hueb, do Incor. Durante cinco anos, o médico e sua equipe compararam a evolução de cerca de 600 pacientes, divididos em três grupos. Os pertencentes ao primeiro foram tratados com remédios e mudanças de hábitos de vida. Os do segundo, submetidos à angioplastia. E aqueles agrupados no terceiro conjunto, encaminhados à colocação de ponte de safena ou mamária. Avaliou-se a incidência de infarto e morte nos três grupos. Tema de capa da edição de março da revista americana Circulation, uma das principais revistas científicas da cardiologia mundial, o Mass II mostrou que praticamente não houve diferença de resultados.
O segundo estudo é o americano Courage. A análise de quase 2 300 pessoas pretendia avaliar se a angioplastia, associada a um tratamento clínico rigoroso, superava a terapia à base apenas de remédios. Depois de quatro anos e meio de acompanhamento, chegou-se à conclusão de que não houve diferenças nas taxas de mortalidade, infarto ou derrame entre os que fizeram angioplastia e os que tomaram somente medicamentos. O principal autor do Courage, o médico William Boden, professor de medicina e saúde pública da Universidade Buffalo, nos Estados Unidos, escreveu: "A evolução das terapias medicamentosas elevou o tratamento clínico ao patamar das técnicas intervencionistas, ainda hoje a primeira opção de muitos cardiologistas". Os resultados desse trabalho foram apresentados no último Congresso do Colégio Americano de Cardiologia, realizado no início do ano, e – como era de esperar – causaram polêmica. "A principal crítica ao estudo é o fato de que seus autores não incluíram no protocolo da pesquisa os stents farmacológicos, que aumentaram a eficácia da angioplastia em até 90%", diz o cardiologista José Eduardo Sousa, diretor médico do Hospital do Coração, de São Paulo. Os stents são próteses metálicas que, colocadas no interior de artérias coronarianas obstruídas, normalizam o fluxo de sangue para o coração. Os mais modernos são recobertos por medicamentos que inibem o crescimento de tecido – o que reduz os riscos de uma nova obstrução. Com eles, apenas 2% dos pacientes têm de passar por uma segunda intervenção em seis meses. Com os stents tradicionais, o índice de reobstrução chega a 20%.
É bom que se frise que as pontes de safena e mamária continuam a ser imprescindíveis nos casos de pacientes de altíssimo risco – como os diabéticos ou aqueles que apresentam o músculo cardíaco comprometido e mais de três artérias obstruídas. Para eles, a cirurgia ainda é o método mais recomendado para aumentar a sobrevida e aplacar os sintomas recorrentes da doença coronária, como a dor. Obviamente, a recuperação é mais delicada e sofrida. Muitas pessoas, no período pós-operatório, são acometidas de depressão. Esse quadro, contudo, é passageiro. Também não se duvida de que a angioplastia tem resultados superiores em pacientes de urgência – aqueles que estão infartando – ou em vítimas de dores agudas, mas não contínuas (as anginas instáveis). Mas é certo que, em relação aos pacientes com doença coronariana estável, o tratamento medicamentoso, por si só, tem se revelado eficiente.
A primeira angioplastia realizada com sucesso em seres humanos data de trinta anos atrás. O pioneiro foi o médico alemão Andreas Grüntzig. De lá para cá, a sua aplicação expandiu-se velozmente. Ela foi fundamental para a queda pela metade do número de mortes por ataque cardíaco verificada desde o fim da década de 90. Comparada aos procedimentos mais invasivos, a angioplastia é extremamente simples. A internação não costuma passar de dois dias, e, em uma semana, o paciente está habilitado a voltar às atividades rotineiras. No Brasil, em 2006, estima-se que tenham sido feitas 80 000 angioplastias, de acordo com dados do Sistema Único de Saúde – quase o dobro do número de cirurgias cardíacas de grande envergadura.
Daniel Aratangy
ELE PASSOU POR TUDOO médico Trajano Vayas: dez anos atrás, cirurgia; hoje, angioplastia e remédios
A maior surpresa, no entanto, é a constatação de que os remédios podem ser tão eficazes quanto uma angioplastia ou uma operação. Hoje, os médicos lançam mão de combinações de remédios como estatinas, anti-hipertensivos e aspirina. As estatinas, lançadas em meados da década de 80, revolucionaram a prevenção e o tratamento do colesterol alto, um dos piores inimigos do coração. Entre os remédios mais eficazes para controlar a pressão sanguínea estão os inibidores da ECA. Foi um desses coquetéis que salvou o coração da dona-de-casa Gisleine Calpacci, de 55 anos. Com as artérias obstruídas, ela quase infartou. No passado, Gisleine iria direto para a mesa de cirurgia. Seu médico, no entanto, optou pela terapia medicamentosa. Graças aos nove comprimidos diários, ela está bem.
Há pouco mais de três anos, descobriu-se a existência de placas moles de gordura, um veneno escondido nas artérias. A corrente mais moderna da cardiologia sustenta que 70% dos infartos se devem a elas. Indetectáveis por meio de exames convencionais, como o ecocardiograma, o cateterismo ou o teste de esforço cardíaco, elas se desprendem e entopem as artérias, levando ao infarto. Nem as cirurgias nem a angioplastia são capazes de destruir essas placas, formadas por cálcio, colesterol e outras gorduras circulantes. Contra elas, o que há de mais efetivo é o tratamento agressivo com remédios que baixam o colesterol e a pressão arterial, além de mudanças no estilo de vida. Essa descoberta ajudou a reduzir o número de procedimentos invasivos até em pacientes que já sofreram infarto.
A queda no número de operações cardíacas para a colocação de pontes de safena ou mamária começa inclusive a mudar o perfil dos cirurgiões. Os mais experientes estão migrando para outras áreas, como a da cirurgia torácica. Os mais jovens, por sua vez, enfrentam dificuldades para conseguir trabalho. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos com cerca de 100 residentes em fase final de treinamento mostrou que 12% deles não haviam recebido nenhuma oferta de trabalho para exercer a cirurgia cardíaca, conforme artigo publicado na revista médica Annals of Thoracic Surgery. No Brasil, a tendência é a mesma. "Os residentes de cirurgia cardíaca estão desistindo da especialidade, porque esse campo se restringiu bastante", diz o cardiologista Eduardo Sousa, diretor médico do Hospital do Coração. "Ao mesmo tempo, aumentou a procura por residência em cirurgia vascular, em que há a opção de operações menos invasivas, feitas por intermédio de cateter." Até outras grandes cirurgias cardíacas, como as de implantação de válvulas e as de correção de anomalias, por exemplo, já podem ser feitas por meio de cateter – ou seja, não precisam ser realizadas necessariamente por um cirurgião cardíaco que abra o peito do paciente. "Imagine um salão de baile, com os cirurgiões cardíacos em um canto, sem que ninguém os tire para dançar: essa é a situação desse mercado hoje em dia", compara Kurt Mosley, vice-presidente da consultoria Merritt, Hawkins & Associates, especializada na área de saúde, em entrevista ao jornal americano USA Today. "Dez anos atrás, contudo, eles eram os primeiros a ser chamados para dançar."
A cirurgia cardíaca é um campo relativamente novo da medicina. Por muitos anos, o coração foi considerado um órgão intocável. Em 1881, o médico austríaco Theodor Billroth, pioneiro da cirurgia abdominal, declarou: "Qualquer cirurgião que vier a tentar uma operação do coração deveria perder o respeito de seus colegas". A primeira cirurgia cardíaca seria realizada quinze anos depois da declaração de Billroth pelo alemão Ludwig Rehn. Em setembro de 1896, ele suturou com sucesso um ferimento no ventrículo direito do coração de um rapaz de 20 anos. Em 1902, em um artigo publicado na revista da Associação Médica Americana, fazia uma observação curiosa: embora a distância para um bisturi chegar ao coração não seja maior do que 1 polegada, passaram-se 2 400 anos até que a cirurgia pudesse percorrer esse caminho. A primeira cirurgia de revascularização seria realizada em 1967, na Cleveland Clinic. "Durante muito tempo, por falta de opção de tratamento, safenas e mamárias constituíam a norma", diz o médico Raul Santos. Era absolutamente necessário entrar na faca para sair com vida. Hoje, o que está saindo de cena é a faca.
Fonte: Veja.com
Reportagem
Anna Paula Buchalla
Veja Tambem:Em profundidade: Coração